quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A crítica social no «Auto da Barca do Inferno», de Gil Vicente


É a ti, aluno(a) do 9º ano, que é dirigido este post sobre aquele que foi considerado uma espécie de «bobo da corte» pela liberdade crítica que lhe foi tolerada.
«O Auto da Barca do Inferno» é um exemplo perfeito da sátira social de Gil Vicente aos costumes da sociedade portuguesa do século XVI, fazendo jus à fórmula latina « ridendo castigat mores » ( a rir corrigem-se os costumes). A sua crítica tem, pois, uma função moralizadora que, nesta peça, é facilmente detectada pelas réplicas contundentes do Anjo.
Gil Vicente fará alvos da sua crítica os poderosos, os materialistas e os corruptos. No entanto, em Gil Vicente não há só perversos. Nele encontramos também aqueles que não usam de malícia nos seus actos e falas como é o caso do Parvo e o caso dos Quatro Cavaleiros que são merecedores da paz eterna porque morreram nas cruzadas em defesa do Cristianismo.
Passando, agora, para um plano mais específico não podemos deixar de referir que a sátira vicentina abrange três classes sociais: Clero, Nobreza e Povo. As personagens criadas por Mestre Gil constituem tipos - sociais. O tipo mais frequentemente satirizado é o que representa o Clero da época. No «Auto da Barca do Inferno» este é corporizado na figura do Frade que aparecerá no cais acompanhado da sua moça Florença. Este frade canta e dança, dá lição de esgrima e acredita na sua salvação. De salientar que a Igreja como Instituição nunca foi atacada pelo nosso Mestre, mas as circunstâncias eram-no: a vida dissoluta que alguns levavam, a sedução pelo «metal luzente» e o facto de pensarem que a condição de sacerdotes os salvava. A Nobreza apresenta-se-nos decadente e ignorante. Os Fidalgos, embora «bem falantes», como é o caso de Anrique eram pobres de espírito, soberbos e autoritários. Gil Vicente criticava esta classe de forma acintosa porque o revoltava o facto destes tratarem os mais humildes de modo despótico.
Outros exploradores das camadas populares também foram criticados de maneira colossal: o Corregedor, o Procurador e o Onzeneiro que corporizam uma sociedade corrupta e materialista, em que reina a ganância, o suborno e a rapina com que os exploradores enchem os seus próprios bolsos.
Os artesãos também não escapam ao olho crítico de Gil Vicente. O Sapateiro que explorou os fregueses com o seu ofício durante trinta anos e pelo seu falso moralismo religioso também será condenado.
A Alcoviteira também não escapará do seu destino infernal pela prática de feitiçaria e prostituição.
O Povo é representado pelo Enforcado, o Judeu, o Pajem do Fidalgo, a Florença e as «moças» da Alcoviteira. Estes constituem-se mais como objectos dos poderosos do que propriamente como pessoas.
Como vês, a sátira social em Gil Vicente é vastíssima. Muito haveria a aditar, mas, para isso, viaja na obra deste grande marco da nossa literatura e encontra a tua própria leitura uma vez que «a cultura nunca será apenas algo que se transmite. É também algo que se desenvolve!»


Prof.ª Anabela Gonçalves (Língua Portuguesa - 3º Ciclo)

1 comentário:

Anónimo disse...

E muito giro este blog.
ok Adorei
Joana Rego 7ªB Nª8